Ouvi uma vez
que cachorros não vão para o céu. Assim disse um teólogo, “sábio doutor
estudioso dos mistérios divinos”. Disse ele que isto se deve ao fato de que
apenas os homens (no seu sentido amplo) possuem alma. Animais e plantas não
possuem, e por isso quando morrem é o fim, simplesmente. Como assim
simplesmente? Céu: mundo de almas desencarnadas. Quanta bobeira pra se ouvir
num dia de sol! Concluí que na verdade muito pouco este “sábio” conhece de
cachorros, e creio que muito pouco também sabe sobre o céu.
Em minha infância,
sempre ouvi que existia um céu para cachorros, mas meu pai, sempre que morria
algum cachorro meu, dizia que um era o céu, e este era para todos, pra gente,
cachorros, gatos, periquitos e papagaios, árvores, e orquídeas. Ai que alívio! Imagina
morrer e chegar num lugar onde só tem pessoas? Não ouvir o canto dos pássaros,
não afagar o pêlo de um cão, não ter gatos se entrelaçando nas pernas, ouvindo
apenas aquele chato blá blá blá, típico de pessoas quando se aglomeram.
Meu querido
Rubem Alves (ao qual sempre declaro meu amor), pedagogo, poeta, filósofo, cronista, ensaísta, psicanalista e
teólogo, certa vez escreveu: “Se Deus criou os bichos é porque os desejava e
deseja. O céu vazio de animais é o céu de um Deus que fracassou (...) Deus
gosta de bichos. Se ele gosta de bichos, eles serão ressuscitados no último dia”.
Prefiro a opinião de Rubem Alves, à do “sábio doutor”.