sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sobre o eterno!




Corpo magro, pele fina, cabelos ralos e brancos, rugas. O corpo sucumbe diante do tempo. O que fazer? Por mais que existam tratamentos estéticos, cirurgias plásticas, tinturas para cabelos, a ação do tempo é sempre mordaz. A fragilidade incide. O corpo um dia será pó. E sobre isso não se há o que fazer. O elixir da eternidade não existe!
Se bem que bem conheço pessoas eternas. Ou melhor, que se fizeram eternizar. Que ao partirem deixaram um pouco de si em suas obras, como Drummond, meu tão querido, Camões, Neruda, Graciliano Ramos, Florbela Espanca, José Saramago, Fernando Pessoa – esse, aliás, imortalizou vários de si mesmo. Conheço também eternos que ao partirem deixaram um pouco de si no meu coração. Inesquecíveis. A morte é dura, fria, inquestionável, e se tornar eterno, suaviza o peso que a morte carrega consigo.
Há quem confunda eternidade com juventude. Estica isso, estica aquilo. E não percebem que se eternizar é criar marcas. Deixar fissuras tão profundas que é impossível esquecê-las. Para tornar-se eternamente jovem, rasga-se e remenda-se. Para tornar-se simplesmente eterno, basta rasgar-se, dilacerar-se, mostrar a “dor e a delícia de ser o que é”, não é mesmo, Caetano?
Para tornar-se eterno é necessário, principalmente, plantar sementes. Saber ser ombro pra quem precisa chorar, saber ser mão estendida pra quem quer se levantar.  Saber formar laços. Saber viver com o outro e deixar um pouquinho de si no outro. Eternizar-se é perder um tanto de si no outro, e não apenas encontrar-se no outro, como muitas pessoas fazem. Usam o outro para se descobrirem, e esquecem que a descoberta se faz a partir da perda.
Tornar-se eterno é ser capaz de receber o vazio do outro, com suas dúvidas, falhas, confusões e confissões, sem julgamentos, sem moralismos. E assim ser capaz de entregar seu próprio vazio, o que significa mostrar-se frágil, necessitado do encontro com outro. Todo ser humano é frágil, mesmo aqueles calejados pela vida, mesmo aqueles que se fantasiam o tempo inteiro por não conseguirem encarar a realidade.
Mário Quintana, outro eterno, escreveu:
"Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata”.
O elixir da eternidade não existe! O que existe é processo! Tudo no mundo se faz por processo! E o tempo voa, meu caro! Deixe-se eternizar!

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