domingo, 12 de agosto de 2012

Sobre um pedaço de mim




"Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar”.
(Chico Buarque de Hollanda)

Naquele dia, quando deixei minha mão cair sobre seu rosto frio e imóvel, meu coração parecia que iria parar, mas ele apenas saiu do meu peito. Foi parar na minha garganta, como um nó, dificultando minha respiração. Foi como levar um coice do real. Não estava preparada para aquilo. Senti uma dor, como a dor que se sente ao se perder um membro do corpo.
Tenho tanto de você em mim. Tanto do que sou hoje, devo a você.
Neste dia dos pais, agradeço-te por ter sido o herói que eu escolhi para mim, e por ter se portado como tal, me salvando de todos os perigos escondidos atrás do meu guarda-roupa, nas noites escuras de pesadelos. Você me ensinou a sonhar. E como sonhadora que sou, sonhei que Deus atenderia as minhas preces e não te deixaria partir tão cedo. Mas acontece que a morte bateu à sua porta, e você já tão cansado de lutar, com o corpo já tão fragilizado, com dores já tão imensuráveis, deixou-se descansar nos braços dessa senhora, que te segurou com firmeza. Todo herói tem a sua criptonita.
            Essa senhora, a Morte, gosta de apontar o dedo para a nossa fragilidade perante a vida. Nós, que pensamos sermos donos do próprio nariz, realmente achamos que podemos tudo, dentro de um universo de possibilidades, mas diante da dama de negro, sofremos com a nossa impotência. Sua diversão é brincar de fazer buracos nas almas dos que ficam. Diante desta senhora, o que fazer? Curvar-se.
Neste dia, em que muitos me parabenizam por mais um ano de vida, como soprar minhas velinhas, se me lembro da sua morte? Se sua ausência me tirou o fôlego, se meu coração ainda faz nó na minha garganta? Compartilho com Roberto Carlos um sentimento: “sem você meu mundo é diferente, minha alegria é triste”.
"Saudade a gente tem é dos pedaços de nós que ficam pelo caminho", segundo Martha Medeiros. É que tem um aperto dentro de mim que procura pelos pedaços que ficaram pelo caminho. Saudade aperta, dói, fica latejando sem parar. Acho que é justamente pra nos lembrar dos nossos pedaços!

“Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor. Adeus”.

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