segunda-feira, 23 de julho de 2012

A partir da noite escura...


O sol nasceu e iluminou a escuridão. Mas tudo ocorreu em um processo.
Lembro-me de minha infância quando passava as férias na fazenda de um amigo do meu pai.  Não tinha postes de luz. Quando anoitecia, e olhávamos para fora de casa, víamos apenas o breu. No início das noites, a escuridão era assustadora, depois tornava-se apaziguadora, um momento de contemplação das estrelas, tão mais intensas naquelas noites quentes de verão.
Acordávamos muito cedo, ainda na escuridão. Esperávamos o dia sair para assistirmos ao espetáculo do leite saindo quentinho das tetas das vacas – para crianças, qualquer atitude cotidiana pode ser uma aventura.
Com o passar do tempo, ao nosso redor, as coisas ficavam mais claras, pouco a pouco. Via-se de perto os bancos na varanda, algumas árvores do quintal, a montanha logo a frente da casa. Depois, alguns detalhes se revelavam, como os desenhos talhados nos bancos da varanda, as flores pequeninas no jardim, os caminhos que se desenhavam nas montanhas. E assim acontecia. Um detalhe após o outro até que a paisagem pudesse ser admirada enfim. A claridade alcançava os nossos olhos. O sol iluminava a escuridão.
Muitas são as vezes que passamos por escuridão. E a escuridão, a princípio assustadora, esconde detalhes da vida tão difíceis de serem apreciados, mesmo quando a claridade reina. É necessário contemplar a escuridão para enxergar os detalhes que ela esconde.
O luto, o instante de tristeza, a ferida da alma, nos obriga a nos recolhermos em nós mesmos. Momento de reconhecer na escuridão a vida que nela existe (sentimentos, acontecimentos importantes e até despretensiosos). Na escuridão há vida. Quando finalmente despertamos para a sutil beleza da escuridão, o sol dá o ar da sua graça. É momento de recomeçar o dia!
Quando não suportamos, ou não admitimos a escuridão, passando por cima do luto, engolindo o choro, e engolindo tantos sapos que a vida inevitavelmente joga em nós, fantasiamos a claridade. Enxergamos a paisagem, mas passamos por cima da beleza que existe nos detalhes – mesmo que dolorosos.
Não passar pela escuridão é não se permitir amadurecer, é pular uma etapa necessária para o desenvolvimento da vida. O dia não se faz apenas de sol, claridade. Tudo é ciclo!
Claridade demais cega!

2 comentários:

  1. Como vc escreveu bunito, menina... Que inveja santa que eu Tô docê! Louvores e Glorias a ti, Fabiana.

    ResponderExcluir
  2. Excelente, Fabs!!! Agora, percebo o quanto deveremos valorizar tais monentos. Talvez, a escuridão ilumine nossas mentes tanto quanto a luz. Isso me fez lembrar da imensa quantidade de coisas que conseguimos perceber ao fecharmos os olhos.




    Schepper

    ResponderExcluir