O sol nasceu e iluminou a
escuridão. Mas tudo ocorreu em um processo.
Lembro-me de minha infância
quando passava as férias na fazenda de um amigo do meu pai. Não tinha
postes de luz. Quando anoitecia, e olhávamos para fora de casa, víamos apenas o
breu. No início das noites, a escuridão era assustadora, depois tornava-se apaziguadora,
um momento de contemplação das estrelas, tão mais intensas naquelas noites
quentes de verão.
Acordávamos muito cedo, ainda
na escuridão. Esperávamos o dia sair para assistirmos ao espetáculo do leite
saindo quentinho das tetas das vacas – para crianças, qualquer atitude
cotidiana pode ser uma aventura.
Com o passar do tempo, ao
nosso redor, as coisas ficavam mais claras, pouco a pouco. Via-se de perto os
bancos na varanda, algumas árvores do quintal, a montanha logo a frente da
casa. Depois, alguns detalhes se revelavam, como os desenhos talhados nos
bancos da varanda, as flores pequeninas no jardim, os caminhos que se
desenhavam nas montanhas. E assim acontecia. Um detalhe após o outro até que a
paisagem pudesse ser admirada enfim. A claridade alcançava os nossos olhos. O
sol iluminava a escuridão.
Muitas são as vezes que
passamos por escuridão. E a escuridão, a princípio assustadora, esconde
detalhes da vida tão difíceis de serem apreciados, mesmo quando a claridade
reina. É necessário contemplar a escuridão para enxergar os detalhes que ela
esconde.
O luto, o instante de
tristeza, a ferida da alma, nos obriga a nos recolhermos em nós mesmos. Momento
de reconhecer na escuridão a vida que nela existe (sentimentos, acontecimentos
importantes e até despretensiosos). Na escuridão há vida. Quando finalmente
despertamos para a sutil beleza da escuridão, o sol dá o ar da sua graça. É
momento de recomeçar o dia!
Quando não suportamos, ou não
admitimos a escuridão, passando por cima do luto, engolindo o choro, e engolindo
tantos sapos que a vida inevitavelmente joga em nós, fantasiamos a claridade.
Enxergamos a paisagem, mas passamos por cima da beleza que existe nos detalhes
– mesmo que dolorosos.
Não passar pela escuridão é
não se permitir amadurecer, é pular uma etapa necessária para o desenvolvimento
da vida. O dia não se faz apenas de sol, claridade. Tudo é ciclo!
Claridade demais cega!
Como vc escreveu bunito, menina... Que inveja santa que eu Tô docê! Louvores e Glorias a ti, Fabiana.
ResponderExcluirExcelente, Fabs!!! Agora, percebo o quanto deveremos valorizar tais monentos. Talvez, a escuridão ilumine nossas mentes tanto quanto a luz. Isso me fez lembrar da imensa quantidade de coisas que conseguimos perceber ao fecharmos os olhos.
ResponderExcluirSchepper