Fico imensamente feliz ao
olhar-me no espelho e perceber o quanto mudei. Meus cabelos estão mais
ajeitados, mais controlados, meu corpo está mais cheinho, meu rosto sustenta um
sorriso com aparelho... quanta mudança! Mas emociono-me mais com a mudança do
meu olhar. Perco-me ás vezes lembrando-me das convicções que tinha, das músicas
que gostava, do meu gosto pela comida, dos ídolos que admirava. Hoje as
convicções não são as mesmas. Eu não sou mais a mesma. Mudei meu olhar.
É certo que tudo o que já
vivi, que tudo o que já acreditei, contribuíram com isto que sou agora.
Sei também que o que penso agora, um dia poderá mudar. São tantas as verdades
que carregamos dentro de nós! Qual é a certa, afinal? É impossível tentar
desvendar o ser humano apenas por um único ponto de vista.
Dos ídolos que eu admirava,
alguns ainda hoje sustentam meu encantamento. Dentre eles, aquele moço meio
esquisito, de cachinhos negros na cabeça, que dizia ter nascido há 10 mil anos
atrás, e que preferia ser uma metamorfose ambulante a ter aquela velha opinião
formada sobre tudo. Por que será que ainda me vejo encantada por ele? Eu também
sou metamorfose ambulante, graças a Deus!
Abrir-se para discutir
opiniões diferentes, assuntos diferentes, e através disso até mesmo ser capaz
de mudar um ponto de vista, não é sinal de fraqueza. Muito pelo contrário, é
sabedoria, maturidade, generosidade com nós mesmos. Aumenta o nosso campo de
conhecimento. Com a própria ciência não é assim? Tantas teorias afirmadas com o
passar do tempo, mas quantas tantas outras também refutadas e modificadas.
Ainda bem que não pensamos mais que a Terra é quadrada, e não pensamos mais que
é sustentada por quatro elefantes em pé sobre uma grande tartaruga do mar.
Clarice Lispector, uma vez
disse sentir-se caleidoscópica. Ora, é assim que me sinto também. Cada vez que
me esforço a olhar para dentro de mim, vejo uma imagem diferente se formando. É
sempre tudo novo. Algumas imagens carregando elementos de outras, mas sempre
uma nova imagem.
Eu mudo. O meu olhar sobre mim
muda. E então o meu olhar sobre o mundo também muda. Que magnífico é ver o
mundo diferente a cada dia sob ângulos diversos de um olhar tão mutável. Como é
bom viver a experiência de cada dia diferente. Cada dia um novo “eu” por se
formar.
Ter um olhar engessado é muito
triste. Talvez, vive-se mais facilmente com um olhar assim. Tudo sempre do
mesmo jeito, uma rotina constante. Vida mais passível de planejamentos,
organizações. Nada, ou quase nada, de frustrações. A vida é muito previsível.
Mas quando dispomo-nos a mudar
nosso olhar, a vida torna-se mais dinâmica. Desprendemo-nos do jogo que nos
liga a repetições. Cada minuto é uma chance de transformação. E quanta beleza
existe na transformação!
Falando assim parece fácil,
mas a mudança é fruto de um trabalho árduo. Mexer com paradigmas nem sempre é
tão simples. Muitas vezes acontece lentamente e até dolorosamente. E às vezes o
processo acontece de maneira tão sutil - mas que despende também esforço - que
nem se percebe que está acontecendo. Aí um dia, você está na frente de um
espelho e fica admirado por quanto está mudado! Seu corpo... quanta
diferença.Cabelo mais ajeitado, corpo mais cheinho, sorriso com aparelho. E,
lembrando de como era antes, constata: o que mais lhe comove reconhecer mudado
é o olhar.
Amei essa postagem!!!! Uma das minhas preferidas!
ResponderExcluirAssim como comentou nossa amiga Yandra, afirmo que esta foi uma das minhas preferidas. Para ser mais sincero, foi a que provocou em mim maior impacto, foi a melhor no sentido de ser mais signicativa para o que estou experenciando. Foi fabulosa, Fabs!!! Pergunto a todos, neste momento: de onde e quando vem a inspiração/criatividade humanas??? Será algo nato que é cultivado ao longo da vida, a ponto de atingir um nível tão elevado para produzir coisas como "The End" (THE DOORS), "Frozen Warnings" (NICO), "O Trêm das Sete" (RAUL SEIXAS E PAULO COELHO), "Um olhar sobre o olhar..." (FABIANA LAWALL), "Cien Años de Soledad" (GABRIEL GACRCÍA MÁRQUEZ), entre muitas outras? Olhar nos olhos do outro é respeitá-lo, admirá-lo e acreditar que o mesmo será potencialmente capaz de oferecer-te algo edificante, uma vez que o olhar traz consigo toda experiência adquirida no decurso da vida.
ResponderExcluirSchepper