Muita calma nessa hora! Muita
calma nessa alma!
O livro “Alice no país das
maravilhas”, de Lewis Carroll, tem como uma das personagens um coelho branco
que anda pra cima e pra baixo com seu enorme relógio de bolso. O que ele sempre
diz? “Estou atrasado, estou atrasado”! Assim como nós.
Andamos sempre com uma
sensação de atraso. O mundo está assim, tão agitado. Acordamos com o
despertador do celular, colocamos o café goela adentro e saímos correndo para
pegar o ônibus – ou tirar o carro da garagem. Não importa o meio de transporte,
ambos terão que enfrentar o mesmo trânsito caótico. Chegando ao trabalho, tudo
deve ser cumprido de forma a otimizar o tempo, afinal, é tanta coisa pra fazer.
Na hora do almoço, fast food. Voltamos para o trabalho. Cafezinho? Só se for
bem rapidinho. Saímos do trabalho. Uma hora esperando o ônibus. Meu Deus,
quanto tempo perdido! Pegamos o ônibus. Lotado. Não dá nem pra ler aquele texto
que fala sobre uma determinada questão profissional. Mais tempo perdido – aí
sim percebemos a vantagem de se andar de carro. Chegando em casa, hora de tomar
um banho relaxante, depois comer alguma coisa pra forrar o estômago. Enfim,
descansar? Que nada! Hora de ler aquele texto que não deu pra ler no ônibus.
Depois da leitura, programar o trabalho do dia seguinte. Agora sim, descansar?
Não. Apagar na cama! E quando se tem filhos? E quando se trabalha e estuda? E
quando... e quando? Falta hora pra tanta coisa! Às vezes dá vontade de gritar:
“Pare o mundo que eu quero descer”!
O mundo anda muito depressa e
parece não esperar meus passos cansados. Falta hora pra tanta coisa, mas na
verdade eu gostaria que faltasse hora pra tanta vida! Estamos aprisionados em
uma prisão chamada tempo e o carcereiro da prisão é o relógio, que com seu tic
e tac, nos lembra a todo instante da nossa serventia ao supremo deus Chronos.
Até mesmo os nossos momentos de diversão são programados rigorosamente.
E o pior, é que o próprio
tempo é uma incógnita. O que seria, afinal, se sempre tão relativo? Mas a
sociedade teima em espremê-lo e fazê-lo de prisão. Teimamos em carregar conosco
o carcereiro. Somos jogados na prisão por nós mesmos e engolimos a chave.
Quero liberdade já! Quero
acariciar minha alma calejada de tanto correr para vencer os atrasos. Quero ler
os livros que ainda não li. Quero ler os livros que já li, mas que são dignos
de releitura. Quero fazer trabalho manual. Quero sair sem destino, de mãos
dadas com alguém que gosto – com um amigo, com meu amor. Quero sentir o vento
nos cabelos. Ir para a praia, parar de frente para o mar e ficar admirando.
Sentar no sofá de casa e assistir a filmes na televisão. Sair pra dançar.
Visitar amigos. Enfim, estou querendo mesmo é gastar tempo! E quem quiser que
critique!
Decidi saborear a vida, como
alguém que saboreia um delicioso jantar. Devorando-a devagar, apreciando o
gosto de cada momento, tentando descobrir cada ingrediente que a torna mais
saborosa.
E que passem coelhos brancos
falando sobre atrasos perto de mim. Eu não vou nem ligar!
Teus argumentos são muito robustos! Fantástico! Passei por meio deles. Foi delicioso! Hoje, tentei fazer a experiência de, por meio de recusros dúbios (e considero assim por ser simplesmente estocástico), esvaziar minha mente; tentar fazer com que todas as mihnas atidutes não acontecessem em função do "tempo". Foi mais um dos meus experimentos mentais. Sem embargo, foi impossível até então. Fiquei frustrado! Foram vários anos vivendo numa estrutura social que esquecera que imergir-se/estar-se, de maneira aprazível, no chamado espaço-tempo, é algo divino e, ao mesmo tempo, quase impossível. Talvez, um dia eu consiga mergulhar nesta maravilha que tem cerca de 14 bilhões de anos - velha, não?! - e, assim, tenha condições de experimentá-lo melhor. Isso mesmo, Fabs! Embora ele se apresente como um "coelho branco", creio que não tenha culpa de sê-lo. Provavelmente, não o seja. Alguém arquitetou o "tempo" - talvez o mesmo que tenha nos arquitetado - e nós inventamos/criamos a pressa. Ele, o "tempo", não tem culpa! Quando chegmos, ele já estava aqui e, pelo que parece, não incomodava ninguém. O grande vilão somos nós! Nós aprisionamos o tempo!
ResponderExcluirAssim como o útero acolhe o óvulo fecundado, ele nos acolheu! Aliás, a melhor definição que encontrei a respeito desta coisa misteriosa, a qual chamos "tempo", foi: aquilo que é potencialmente capaz de alocar um evento. Aqui, cabe realçar que no Universo ocorrem infinitos. Como corolário, somos uma Irmandade Cósmica. Respeitemo-nos!!! Amemo-nos! Refiro-me, aqui, a tudo que exista nesse Universo. Parece um pouco panteísta, mas penso que seja assim. Cada evento é uma manifestação do divino; não de Chronos. Meu Pai não seria tão perverso! Enfim, procuro amar o "tempo", mesmo com todas suas aparentes limitações - quiçá, minhas limitações.
Schepper
Rafael, adoro seus comentários!
ResponderExcluirTambém amo o tempo, mas detesto a pressa! E nós, ao invés de nos possibilitarmos sermos acolhidos por ele, simplesmente nos acorrentamos a ele, e nós nos fazemos prisioneiros dele. Coisa nossa, ou melhor coisa da sociedade na qual fomos imersos, afinal, já nascemos com a pressão do relógio sobre nossos pulsos. Como é difícil, ou até mesmo impossível, nos libertarmos dos coelhos brancos apressados e saltitantes de nossas mentes. Já tentei, como você. Também não consegui.
"O mundo anda muito depressa e parece não esperar meus passos cansados."
ResponderExcluirAcabei de descobri esse seu cantinho... não sabia que escrevia tão bem!!
Obrigada por essa doce reflexão sobre o tempo!
beijos