Uma janela tem como função
proteger (do vento, do frio, do sol forte), mas o que encanta mesmo é a
revelação que faz das paisagens. Para os que estão em casa revela montanhas,
ruas, o homem levando sua filha pra passear, a mulher que passa apressada pra trabalhar.
Para os que estão de fora, revela o cotidiano familiar, a dona Maria fazendo o
café, a criança brincando no quarto, o filho estudando pra passar na prova.
Os olhos, janelas que
conectam o dentro e o fora, a alma e aquilo que a alma produz, encontram
nas palavras uma maneira de revelação!
Como é paradoxal o ato de
escrever, desenhar com letras aquilo que a alma transborda. Terrível por
mostrar demais a essência daquilo que muitas vezes não suportamos admitir
existir dentro de nós. Doce por nos ligar ao outro - o leitor.
Escrever é expressar aquilo
que vem da alma, e não estou falando apenas de poesia. Se bem que como
apaixonada por poesias, devo admitir que sinto minha alma sair de mim ao
debruçar-me sobre Camões, Drummond, Neruda e tantos outros. Mas também sinto
minha alma tremer com o cotidiano descrito em palavras. Sinto minha alma
salivar ao ler uma receita de frango com quiabo, sinto minha alma viajar ao ler
sobre as aventuras de um amigo que está estudando na Índia, sinto minha alma se
emocionar ao ouvir em forma de música escritos de amor.
Inclinar-se diante de um papel
ou de um teclado de computador, é como fechar os olhos e explorar um mundo que
se faz descoberto conforme as letras vão se desenhando. É escrever o fantástico
e descobrir que o fantástico, a invenção, não é uma produção do acaso, mas de
uma alma que deseja ser manifestada.
Creio também que escrever é
como um desabrochar. Deixar mostrar as pétalas, abrir-se para a admiração ou para
o estranhamento, exalar perfume. É um ato que desencadeia mudança. Revelar-se
ao outro, expor-se à opinião alheia não é fácil. Colocar-se nu frente a olhos
atentos é também ter coragem de tirar o véu que cobre as imperfeições. E como
as imperfeições são intrigantes! E mesmo que nos desgastemos no ato de
escrever, nunca seremos capazes de nos mostrar todo. Sempre há um a mais a ser
revelado. Sempre há uma descoberta a se fazer, sempre há uma pergunta que
espera uma resposta.
Clarice Lispector sabia bem a
importância de expressar-se pelas palavras. Dizia ela: "enquanto eu tiver
perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever". Palavras que
se montam a partir da janela.
Excelente inicativa, Fabs!!! Felicitações pelo Blog!Tuas palavras acariciaram/confortaram minha alma. Nunca imaginei que eu poderia ser tocado tão fortemente por poesias (tenho muita dificuldade para interpretá-las). Genial a citação daquelazinha (a Clarice). Às vezes, sinto necessidade extrema de dar respaldo a tudo que procuro fazer. Agora, ficou mais claro o motivo pelo qual essa mulher escreveu, certa vez, algo do tipo "não é necessário entendermos o porquê pois viver ultrapassa todo o conhecimento. Somos todos uma pergunta".
ResponderExcluirSchepper
Que lindo sua linda!!!!!
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