sábado, 21 de julho de 2012

Palavras da Janela

Uma janela tem como função proteger (do vento, do frio, do sol forte), mas o que encanta mesmo é a revelação que faz das paisagens. Para os que estão em casa revela montanhas, ruas, o homem levando sua filha pra passear, a mulher que passa apressada pra trabalhar. Para os que estão de fora, revela o cotidiano familiar, a dona Maria fazendo o café, a criança brincando no quarto, o filho estudando pra passar na prova.
Os olhos, janelas que conectam  o dentro e o fora, a alma e aquilo que a alma produz, encontram nas palavras uma maneira de revelação!
Como é paradoxal o ato de escrever, desenhar com letras aquilo que a alma transborda. Terrível por mostrar demais a essência daquilo que muitas vezes não suportamos admitir existir dentro de nós. Doce por  nos ligar ao outro - o leitor.
Escrever é expressar aquilo que vem da alma, e não estou falando apenas de poesia. Se bem que como apaixonada por poesias, devo admitir que sinto minha alma sair de mim ao debruçar-me sobre Camões, Drummond, Neruda e tantos outros. Mas também sinto minha alma tremer com o cotidiano descrito em palavras. Sinto minha alma salivar ao ler uma receita de frango com quiabo, sinto minha alma viajar ao ler sobre as aventuras de um amigo que está estudando na Índia, sinto minha alma se emocionar ao ouvir em forma de música escritos de amor.
Inclinar-se diante de um papel ou de um teclado de computador, é como fechar os olhos e explorar um mundo que se faz descoberto conforme as letras vão se desenhando. É escrever o fantástico e descobrir que o fantástico, a invenção, não é uma produção do acaso, mas de uma alma que deseja ser manifestada.
Creio também que escrever é como um desabrochar. Deixar mostrar as pétalas, abrir-se para a admiração ou para o estranhamento, exalar perfume. É um ato que desencadeia mudança. Revelar-se ao outro, expor-se à opinião alheia não é fácil. Colocar-se nu frente a olhos atentos é também ter coragem de tirar o véu que cobre as imperfeições. E como as imperfeições são intrigantes! E mesmo que nos desgastemos no ato de escrever, nunca seremos capazes de nos mostrar todo. Sempre há um a mais a ser revelado. Sempre há uma descoberta a se fazer, sempre há uma pergunta que espera uma resposta.
Clarice Lispector sabia bem a importância de expressar-se pelas palavras. Dizia ela: "enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever". Palavras que se montam a partir da janela.

2 comentários:

  1. Excelente inicativa, Fabs!!! Felicitações pelo Blog!Tuas palavras acariciaram/confortaram minha alma. Nunca imaginei que eu poderia ser tocado tão fortemente por poesias (tenho muita dificuldade para interpretá-las). Genial a citação daquelazinha (a Clarice). Às vezes, sinto necessidade extrema de dar respaldo a tudo que procuro fazer. Agora, ficou mais claro o motivo pelo qual essa mulher escreveu, certa vez, algo do tipo "não é necessário entendermos o porquê pois viver ultrapassa todo o conhecimento. Somos todos uma pergunta".

    Schepper

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