sábado, 28 de julho de 2012

Sobre o desabrochar das flores


Carrego uma rosa tatuada no braço e um desabrochar no coração.  Tristes são aqueles que mantêm uma amargura no olhar, que fazem um julgamento implacável por causa da imagem, e não enxergam o desabrochar. Talvez porque o desabrochar seja um movimento tão profundo, que somente olhos sensíveis são capazes de perceber.
Desabrochar exige crescimento e também a capacidade de perder uma ou outra pétala pelo jardim. Desarmar-se de si mesmo, e tentar encontrar-se novamente no inesperado. É como dizia Florbela Espanca, “que me saiba perder... para me encontrar”. E cá pra nós, como é difícil perder pétalas e permitir-se desarmar! Perder pétalas é como deixar as muitas máscaras caírem do rosto. Deixar a alma limpa, sem maquiagem. Perder a vaidade. Pelo menos tentar sentir o que a alma transmite, tal como ela é, mesmo que isso doa, machuque. Tem coisas da alma que dói muito escutar. Haja análise!
Para desabrochar é necessário movimento, é preciso desejar. Uma rosa desabrocha por desejar mostrar suas pétalas, e em cada pétala uma história, em cada pétala um universo escondido e revelado. Em cada pétala um desenho da vida que aos poucos se deixa ver. A cada dia a vida é rabiscada como um desenho, e em cada dia surge uma nova chance de desabrochar.
Há ainda muito no mundo que desabrochar. Há muitas pétalas a se perderem. Intolerância, preconceitos, agressividade, autocentramento, falta de cordialidade. Pessoas que andam tão depressa que não conseguem parar, nem que por um momento para vislumbrar mudança. Não se pode perder em uma sociedade que preza sempre pelo ganho, pela vitória, pelo lucro. Mas será que é tão difícil entender que há casos nos quais perder é ganhar?
Há tanto ainda que desabrochar dentro de mim. Espero que a rosa tatuada no meu braço faça-me lembrar sempre da beleza escondida no ato de desabrochar.

Um comentário:

  1. E pensar que tantas pessoas perdem a oportunidade de desabrochar em detrimento daquilo que esta maldita sociedade que preza pela desgraçada superficialidade - e parece que lhe é interessante! Isso não o Caos! Ele é mais lindo, prudente, fértil, generoso, profundo... Somos filhos do Caos. Produtivo Caos.
    Quem me dera poder viver entre os aborígenes, ou entre os antigos Incas (ou Maias, ou Astecas), ou entre nossos queridos ancestrias, os primeiros homo-sapiens - creio que seria mais interssante! Ter a oportunidade de observar a primeira mulher! O que se passava na cabeça dela? E se eu resolvesse cortejá-la diante do seu macho? O que sucederia? Realmente, temos muitas pétalas que perdermos: a impaciência, a intolerância, a incompreensão... Desaborchar é permitir-se ser humano. É buscar as maravilhas encontradas no outro. E, simplesmente, evoluir. Não atoa Darwin observou na Natureza esta propriedade intrínsecade de tudo que está contido no Universo, tangível ou não: a Evolução. E ainda bem que ele - o Universo - é isótropico e homogêneo. Do contrário, pobre de nós!!! Mais uma vez, Senhora Lawall, congratulações pelos geniais textos produzidos! Desejo, ainda, uma excelente semana! Qué a Força esteja conosco!

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