Acordei num ímpeto. Estava no
quarto. Ainda bem. Corpo suado, boca seca, coração acelerado, respiração
ofegante, confusa. Tive um pesadelo.
Eu, nos meus 27 anos, tive
vontade de correr para a casa dos meus pais, entrar no quarto deles, cutucar
meu pai e olhá-lo com olhos de criança assustada pedindo consolo.
Quando eu era criança tinha
muitos pesadelos. E desse jeitinho eu fazia. Meu pai se levantava – às vezes
minha mãe – e me levava novamente para o quarto, me deitava na cama e começava
a conversar, até que eu adormecesse novamente. Aquela voz me dava tanto
conforto, tanta segurança, que meu coração se acalmava, e eu dormia tranqüila
até o dia amanhecer.
Existem vozes que nos acalmam.
Para quem já perdeu os pais, lembrar-se até mesmo da voz brava, de advertência
por causa de alguma travessura, conforta. A voz de um amigo, mesmo que por
telefone, em dias de euforia, ou em dias aborrecidos, é algo muito agradável,
modifica o humor! Para aquele que está longe de casa, lembrar dos gritos da
vizinha, a chamar pela filha que brinca na rua, aperta a saudade. Para quem não
escuta, os movimentos dos lábios e das mãos do outro, apaziguam a alma.
Comunicar-se é aproximar-se, permitir-se encontrar com outro.
Somos um todo de sentidos.
Mãos para tocar, sentir. Mãos para falar. Lábios para falar, mas também para
tocar e sentir. Os apaixonados entendem muito bem isto. Tantas são as vezes nas
quais os beijos revelam mais que as palavras!
Sinto, falo, ouço, degusto com
meu corpo inteiro. Meu corpo introduzindo-me no campo da linguagem. Linguagem
que me liga ao outro, que produz laços. Linguagem que também afrouxa laços, por
ser tão incompreendida. Quando falo, nem sempre falo da maneira que queria
dizer e você nem sempre entende aquilo que foi revelado por mim. E assim,
nascem os conflitos, desentendimentos, os afrouxamentos dos laços, quando não
sabemos lidar com situações assim.
Mas hoje quero dizer de vozes
que acalmam. Como é bonito ver uma mãe acalentando seu bebê, cantando uma
cantiga de ninar. O bebê aos poucos vai adormecendo, seu corpo vai ficando
molinho, e quando menos se imagina, lá está ele, completamente entregue aos
braços da mãe! A sensação que produz é de proteção extrema. Não há o que temer
diante daqueles braços que o seguram, diante daquela voz de paz.
E o que dizer das músicas?
Algumas músicas acariciam a alma. Produzem o mesmo efeito da mãe que acalenta
seu bebê. Quando preciso acalmar-me, coloco uma música gostosa, que me faça
lembrar algum momento agradável. Pronto, está feito, vejo-me entregue aos
braços daquela poesia cantada.
Vozes que acalmam nos fazem
produzir sonhos, mesmo quando acordados. Quantos pesadelos que temos acordados!
Momentos que não gostaríamos que acontecessem, que nos fazem transpirar, perder
a respiração. É como se estivéssemos no mar e de repente afundássemos. Mas,
então ouvimos uma voz, aquela voz tão esperada, e ela atua como uma mão que nos
puxa de dentro da água, e nos devolve o ar!
Por favor, devolva-me o ar.
Deixe-me ouvir sua voz e faça-me sentir a indescritível sensação do ar entrando
em meus pulmões. Comunicar-me com você, aproximar-me de você, devolve-me a paz,
devolve-me a vida. Meu encontro com sua voz me faz viver.
Uma voz amiga é indispensável
para respirar num mundo que tenta, o tempo todo, nos tirar o ar.
Precisamos de vozes para
respirar!
Oi, Fabiana! Tava doida pra vir aqui... desde que soube do seu blog, mas o tempo... o tempo é esse danado que sabe a hora pra tudo, tempo pra ouvir a voz que nos faz respirar, tempo pra deixar pra depois o que não precisamos ouvir!
ResponderExcluirEu também sinto falta de uma voz que fazia tranças em mim pra eu ir pra escola! Mas sei que estou sempre nos seus braços...mesmo que esses braços estejam perto dos braços do Pai! Um grande beijo pra vc! Bom dia, poesia!
Minha querida e apreciada Seleta, agradeço-te com muita alegria/satisfação por me ajudar a contemplar, degustar, amar a poesia! Como eu havia comentado, sinto um desejo enorme de me dedicar a essa arte. Ela acalenta minha perturbada/inquieta alma. Sons, imagens, sabores... Coisas que se nos apresentam de maneira tão maravilhosa - às vezes sutil; às vezes de forma agressiva. Não importa! Todas estas são manifestações da esplendorosa, sábia, perfeita Natureza, que cuida da gente com carinho de quem nos ama verdadeiramente. Vozes, rostos, gargalhadas, odores... Tudo isso nos fazem recordar daqueles que, de um jeito ou de outro, nos completam... Lembrei-me das palavras de Rebem Alves: (não sei se excatamente assim)"a saudade é a inclinação da alma para aquilo que mais amamos e que não está presente". Menos mal que temos uma das funções supereriores que, em meu pensar, é uma das mais importantes: a memória. Vieram-me à mente o raciocínio e a imaginação. Mas estas não são capazes de, diretamente, nos conduzir ao que que mais desejamos e não podemos ter acesso imediato. Sinto a falta de muit@s amig@s, e o único ente que me permite acessá-los é a minha estimada (e, às vezes, falha) memória. Entretanto, nada substitui um som físico verdadeiro! Nada é equivalente a uma imagem realmente produzida sobre nossas retinas - embora as alucinações, sejam elas auditivas, visuais e olfativas muito me apeteçam! Preciso de vozes, preciso de imagens reais... necessito um abraço, uma carícia, um beijo... Preciso de tudo isso para continuar a viver!, a sorrir, a chorar...
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